terça-feira, 5 de agosto de 2008

De mãos dadas para a travessia

Ainda restavam 30 minutos para a chegada do vôo Brasília – Recife. Olhava para o relógio, o peito batia forte à medida que os minutos passavam. Conferia a tela de chegada dos vôos: estava lá confirmado, sem atrasos. Ao meu redor dezenas de pessoas também a espera por amigos, parentes, amores. Eu não sabia exatamente por quem esperava. Havia a expectativa por um amor, por um amigo, por um desconhecido ou até pelo meu príncipe encantado. Há dois anos repeti essa cena, estava eu lá no mesmo horário, esperando por alguém que havia visto apenas uma vez, mas que voltava para ficar comigo, para me conhecer, para viver cenas de um romance. Dessa vez, sabia a importância desse reencontro. Dois anos de espera, tantas fantasias criadas e em poucos minutos elas se tornariam reais ou seriam todas destruídas. É a continuação de um filme. Nem sempre continuações atendem nossas expectativas, isso porque dificilmente conseguem manter o charme ou o encantamento do seu antecessor. Eu vivi o meu: dois estranhos, de nacionalidades diferentes, se olham, se encantam, se apaixonam, passam uma semana juntos e depois não se vêem mais. Perfeito. Roteiro comum batido nas telas dos cinemas americanos, mas para mim era vida real. Foi o suficiente para criar um imaginário no qual eu tinha o ideal de amor. Tomei o lugar de Julie Delpy e me transformei na Celine.
O portão se abriu, e lá estava ele. Olhava para os lados, me procurava entre todas aquelas pessoas ali, umas já se abraçando, outras ainda em pé a espera pelos seus. Não me via, fiz sinal com a mão. Ainda não me viu. O chamei: Alberto.
Fomos almoçar. Não tinha fome, estava anestesiada, acho que encantada. Ele falava sem parar. Contava de sua viagem a Minas Gerais, de seus planos para os próximos meses e de como iríamos nos divertir nessas duas semanas juntos. Fernando de Noronha, Rio Grande do Norte, Caruaru, dançar forró, Oficina de Brennand. Tantas coisas. Eu lá parada. Escutava, olhava, via seu sorriso. Tentava não transparecer todas as emoções que sentia. Ele percebia, perguntava porque eu parecia distante. Por momentos eu não estava ali. Era observadora, e não sujeita da ação.
Os dias foram passando e nos surpreendíamos com nossas diferenças. Como mudamos. Não reconhecia mais aquele olhar romântico com o qual ele observava o seu redor. Deixei-me levar pela impaciência que trazia a irritação também. Eu me defendia, reprimia meus olhares, meus toques. Ele sentia. Éramos dois defensivos, e de tão defensivos nos atacávamos. Não sabíamos lidar com essa passagem. Achava que a dificuldade era apenas minha, mas ele também tinha. Quando nos permitíamos olhar um para o outro víamos algo maior que brilhava, riamos e nos desarmávamos. Éramos um homem e mulher que além da atração, da vontade de estarem juntos, tínhamos uma cumplicidade verdadeira, um carinho forte, algo que precisava ser preservado. Meu melhor amigo é o meu amor. A frase simples da musica mais simples ainda.
Sentia a dor do choro, o aperto no peito ao me despedir das minhas fantasias e ter que aceitar o que a realidade me trazia. Via meu príncipe ir embora em seu cavalo branco, de tão distante que ia não reconhecia mais seu rosto. Ao meu lado estava um homem, um companheiro, um amigo. Tínhamos dois caminhos. Escolhemos a amizade. Estamos abertos a paixões a vida inteira, que podem durar meses ou apenas uma semana. Vivemos a nossa.
Agora temos a leveza da amizade, a tranqüilidade de um vinculo forte e permanente apesar da distância.