segunda-feira, 30 de março de 2009

Final Feliz

Ofereceste teu colo, não me permiti deitar. Não consegui. Tentei mas não fui capaz. Até arrasada me seguro. As lágrimas saem a conta gotas. Uma por uma. Choro pela tua amizade que agora dispenso. Choro por não sentir o que digo que sinto. Mas a verdade, a verdade mesmo é que desconheço a origem de qualquer sentimento . Não sei nem se é você ou um personagem de meu teatro. Ah, mas você está perfeito. Foi um dos melhores interpretes. Você me surpreende. Acredite. Sai do script a todo instante. Não sei o que pensar. Parecemos Sofia e seu professor tentando escapar do livro. A todo instante uma mudança, um novo rumo na estória. Não sei mais de nada, me perco nessa oscilação. Apertemos o pause. Paramos agora, nesse instante em que você declara seu amor. Acabo com o happy end e o amor venceu. Ah, não posso esquecer que seremos felizes para sempre.

terça-feira, 24 de março de 2009

Desabafo

Certa vez li em uma reportagem sobre profissões estressantes que a minha está no topo da mais causadora de stress, juntamente com enfermagem e lincenciaturas. Não sei qual foi a base científica dessa pesquisa mas concordo totalmente com ela. No meu cotidiano me deparo com situações de extrema pobreza, de alta vulnerabilidade e de pessoas fragilizadas.
Muitas vezes no atendimento seguro o choro para não cair em lágrimas na frente do usuário. Me perco no sofrimento deles pois me sinto impotente. Por mais encaminhamentos que eu faça sei que as políticas não vão atender de forma completa, sei que no posto de saúde falta medicamentos, sei que a quantidade de cesta básica para portadores de HIV é insuficiente e que não há vaga em programa que acolha um jovem de 21 anos em situação de rua, que já passou pelo tráfico e agora só deseja aprender a ler e escrever.
Vejo o retrato puro da pobreza todos os dias. Vejo crianças de 7 anos agressivas e idealizando traficantes como super-heróis. Vejo mães chorando a perda de seus filhos assassinados. Vejo pessoas paralisadas em sua situação de pobreza, adolescentes sem planos nem projetos para o futuro e estão incapazes de se imaginarem nos próximos dois anos. Ao mesmo tempo vejo o descompromisso de nossos represantes jogando nossas ideologias e esperanças no fundo do poço. Me vejo sem saída. Procuro me fortalecer nos resultados imediatos de um encaminhamento, ou na alegria de um usuário que foi contemplado no Bolsa Família, ou em uma reunião socioeducativa em que o sorriso no rosto de uma participante expressa sua satisfação por ser escutada. Pequenos resultados que dão um pouco de gás. Mas o fato é que estou sem força até para assistir a um filme e esperar o final feliz como em Quem quer ser milionário? Passei o filme esperando que aquele menino morresse ou nao ganhasse. Não consigo olhar um fato e analisa-lo isolado e apenas acreditar nele e ficar feliz por isso. Esbarro logo em seguida no mas... O mas que traz a critica e o pessimismo .

quarta-feira, 11 de março de 2009

O desencontro de José

Poderia chamar de mais um desencontro, mas não me pertence. Em outras situações refleti sobre meus atos, até lamentei das trapaças que levei e que deixavam-me desencontrada no tempo. Mas, hoje sinto que fui de uma pontualidade inevitavel e, dessa vez , o desencontro não é meu. Sou mera coadjuvante.
Tentei de todas as maneiras : fiz sinal de fumaça, bati os tambores, joguei sinalizadores no céu, mas nada funcionou. Ainda assim você foi na direção contrária.
Lamento a impossibilidade de decidir. Se eu pudesse teria acertado nossos relógios para que marcassem a mesma hora. Ah, meu querido, eu cheguei na hora certa. Pena que o seu relógio atrasou. E agora caminharemos cada um para um lado. Não percebeu que de mãos dadas podemos nos sentir mais seguros? E que com alguém ao nosso lado a viagem torna-se mais divertida? Perdemos nosso trem. Acho que vou na frente, pode ser que eu chegue primeiro mas não tenho certeza de quantas paradas ele irá fazer. Talvez o seu só partirá depois do meu, mas para compensar pode ser um expresso. De qualquer jeito acho dificil nos encontrarmos na estação, mas tenho certeza que chegaremos, separados é verdade, mas chegaremos. Lá seremos recebidos pela alegria de quem estava a nossa espera.
Seremos imensamente felizes, não duvido disso.

terça-feira, 10 de março de 2009

Não há mal pior do que a descrença.

Parece que ainda há aqueles que acreditam que viver sem expectativas é o caminho mais curto e rápido para se evitar a frustração. Não cria expectativa, não se frustra. Soa até como uma lógica simples. Na prática, imagino como deve ser tão simples enviar um currículo para seleção daquela oportunidade de emprego maravilhosa e não esperar que liguem marcando a entrevista, simples também sair para jantar com aquela mulher linda e não esperar levá-la para cama. Mais simples ainda é a mãe matricular seu filho nas melhores escolas e não esperar que ele entre na universidade, e, principalmente, tão simples como amar alguém e não esperar reciprocidade nesse amor.
Ao procurar no dicionário encontrei o seguinte conceito: expectativa é o aguardo de algo que vai acontecer, esperança. Posso concluir que não criar expectativa é não ter esperança. Não ter esperança é viver sem acreditar, viver sem fé.
Uma samambaia vive sem esperança, assim como uma abelha que faz a mesma cera e o mesmo mel. Mas não me parece invejável essa tranqüilidade. Prefiro a ansiedade do coração batendo e as mãos frias na expectativa daquele telefonema e o convite para jantar. Prefiro mais ainda a alegria que só os sonhos podem proporcionar e que nos fazem desejar imensamente que eles se tornem realidade. Quero a serenidade que a fé proporciona ao nos fazer acreditar que um amanhã mais tranqüilo virá. Também quero a motivação para trabalhar que apenas a expectativa por uma nova sociedade mais justa proporciona. Também prefiro a força que resulta depois da dor e tristeza de uma frustração.
Prefiro minha vida bem humana, demasiadamente humana, com suas doçuras e amarguras. E nesse ponto o poeta estava certíssimo quando dizia que a vida só se dá pra quem se deu.