segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Desencontro Rítmico

Ouvi os primeiros acordes e achei que era um samba. Ah um samba bem poético e cheio de emoções como o de Cartola e que no seu refrão daríamos show de dança para qualquer casal de gafieira se intimidar.
Mas trocamos o ritmo e errramos o passo. Quando percebemos você dançava valsa e eu um forró bem acelerado, longe de parecer um xote.
Nosso erro foi que não prestamos atençao na música que tocava. Era uma bossa. E bossa não tinha como dançarmos juntos.
Paramos a dança. Sentamos cada um em uma mesa, tomamos um uísque e deixamos a música continuar.
Ouviremos apenas coisas que só o coração pode entender.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Cor de Rosa

Não fui criada em um mundo cor de rosa. Até pouco tempo detestava essa cor, achava muito enjoada. Barbie também nunca foi minha boneca preferida, ou melhor, nunca gostei de brincar de boneca, achava muito sem graça. Gostava de ação. Mas também adorava uma fantasia. Lia e relia todos os contos de fada. E hoje por mais que eu negue, tenho a tal síndrome cinderela em busca do seu príncipe. Admito que meus contos de fada hoje estão mais para os epísódios de Sex and the City, e estou longe de ser uma princesa frágil que precise ser salva, mas príncipe é sempre príncipe.
Além disso, por falta de sorte astrológica sou canceriana, e se for realmente verdade essa tal astrologia, nasci para o drama, o sentimentalismo e o romantismo. Era o destino!!! Não há coisa mais piegas e brega do que Maria dos Desencontros.
Não há cor que represente melhor. Aqui é o meu mundo cor de rosa.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Em Timba......úba!!!


Estou em Timbaúba para o Reveillon. Vim brindar ao novo em um lugar carregado de lembranças do que passou. Posso afirmar que todo o charme do Reveillon timbaubense acabou, não apagam mais as luzes da cidade a meia noite. Acho isso muito chato e sem graça, queima de fogos tem em todo lugar, mas o apagar de luzes... Isso só acontece agora em cidades muito pequenas, foi o que Tia Hilda me respondeu. E desde quando Timbaúba deixou de ser pequena?
Na minha adolescência costumava passar as férias de Janeiro aqui na casa de meu Tio Lenildo. Era sempre uma farra, nos dividíamos entre ficar na cidade e ir para Pontas de Pedras, lá em Goiana.
A casa dele era sempre cheia. Ele tem quatro filhos, meus primos da família do Z: Zena, Zilanda, Zenaldo e Ziraldo. Isso só começou porque a filha mais velha foi em homenagem a nossa Vó Zena, bom aí ele se empolgou e quis fazer tudo bonitinho e lá foram todos com a letra Z. Além disso, a porta era sempre aberta para todos entrarem sem bater e fazíamos a maior bagunça. Isso para mim era pura novidade, já que lá em casa não tinha essa de vizinhança entrar sem convite, Dona Lau sempre foi muito chata nisso.
Contava os dias para ir a Timabuba, achava a viagem bem longa e dormia o caminho todo, mas quando sentia o cheiro forte da cana-de-açúcar da usina, me animava toda e me enchia de ansiedade, dava um frio na barriga, a mão suava e o coração logo acelerava.
Em cidade do interior quando chega alguém de fora é celebridade, todo mundo quer conhecer e saber da vida. Então não demorou muito para que eu ficasse conhecida, era a prima de Zilanda de Recife.
Havia toda uma liberdade, não tínhamos hora para nada e ficávamos até madrugada jogando conversa fora na calçada. À tarde íamos tomar caldo de cana e comer coxinha. Gostava mesmo era quando iamos para o Engenho fazer farra. Foi nessas farras que tomei meu primeiro gole de cachaça, e ainda era acompanhada de mel de engenho, só mais tarde em Goiana, acrescentei o limão e era a famosa copada.
Aqui também vivi parte do meu primeiro amor, minhas primeiras fantasias e minha primeira grande dor de cotovelo também, tudo sempre compartilhado nos mínimos detalhes com a prima Zi.
Agora a cidade está diferente, muito barulho e movimento. Andei no centro a procura de uma loja de redes e das lanchonetes que costumava frequentar, não as encontrei mas vi a Insinuante, Hermol e outra aí de móveis e eletro que não lembro o nome. Antes só tinha um sinal de trânsito, agora são três cruzamentos e todos com seus respectivos semáforos. Também não vi os senhores jogando Dama na praça mas encontrei uma Lan house, Ubanet.
Da minha turma, poucos permanecem aqui, a maioria casou e saiu da cidade. Igual mesmo só permanece a casa do meu tio que continua ainda com a mesma alegria e, quando estamos todos juntos, rimos bastante e repetimos as mesmas brincadeiras e palhaçadas.

Ao novo que chega... ou que vai. E ao velho que permanece.


No período em que se aproxima a novidade sinto uma saudade maior de mim. Saudade do que vivi e senti que de tão intenso, e para minha frustração, parece que foi único. Final de dezembro é assim: melancólico. Afasta o que senti, o que conquistei, as oportunidades não aproveitadas. Parece que deixam de me pertencerem. Mas aí para trapacear, vem uma música, um pôr do sol, um mar e um luar, e aos pouquinhos, bem aos pouquinhos para não assustar, elas vão reaparecendo. Pequenas lembranças: cheiros, toques, risos e olhares. Cada momento semelhante, cada possibilidade por mínima que seja de viver, de reviver, eu me apego, agarro forte sem vontade de largar. Mas aí não é. É engano. É desencontro para ficar mais bonito e menos desesperador.