domingo, 30 de dezembro de 2007

Encontros por aí a fora

Conhecer pessoas é para mim uma grande aventura comparada a uma viagem a um lugar surpreendente e que sempre há algo novo a ser descoberto. Adoro conversar e apesar de falar muito, escuto atentamente ao que me revelam. Conversar é trocar idéias, discutir, desconstruir e construir. Cada um tem sua história e sua bagagem, além disso, todos mudam, nossos amigos podem sempre nos surpreender com uma atitude inimaginável, e como todas as relações humanas, há sempre o inesperado.
Qualquer lugar é lugar e não há hora certa para puxar uma conversa fiada. Pode ser uma fila de banco, parada de ônibus, velório, mas o melhor mesmo é uma mesa de bar. A alegria da cerveja gelada e da música boa, melhor ainda se for um bom samba, bar de chão de cimento, cadeira plástica e que você chama o garçom pelo nome: Pereiraaaa!!!! Oh Pereira traz mais uma! Quando você se dá conta já está lá no maior papo ou sobre um jogo de futebol ou sobre a tal filosofia da vida. Sinto falta hoje de um bar, aquele que é praticamente a extensão da sua casa. Ah saudade boa do samba das quartas-feiras no Garrafus!
Nunca fui de fazer restrições nem muita cerimônia para conhecer gente, tanto que fui uma sócia fundadora da AFA (Associação dos Forçadores de Amizade). Não gosto desse exclusivismo de turma, aquele grupo fixo de amigos e que se torna uma verdadeira panela. Tenho amigos intelectuais, dondocas, burgueses, marxistas, conservadores, idealistas, evangélicos, espíritas, farristas, caseiros e por aí vai. Sei aproveitar o que cada diferença me proporciona. Por isso gosto de fazer festas para comemorar meu aniversário, é o único momento que tenho para reunir todos aqueles que fazem parte de minha vida e que são tão importantes para mim. A festa vira uma verdadeira salada, uma mistura de gente diferente.
Lembro que em minha adolescência, se mudou para a minha rua uma vizinha nova. Não tive dúvidas, bati em sua porta e me apresentei. Não podia imaginar que a partir dali iria iniciar a formação de meu gosto musical. Juliana me apresentou a bandas que nunca ouvira falar antes, e era engraçado como ela se surpreendia com a minha ignorância. Não satisfeita com meu desconhecimento, me mostrava cds, vídeo clipes, colocava as músicas mais famosas, me contava a história das bandas e dos cantores. Todas as tardes eu ia a sua casa e ouvíamos aos velhos sucessos para ela, e as novidades do dia para mim. O que conheço de música devo a ela, a sua paciência e persistência.
Há encontros, como esse, que me influenciam e causam, inevitavelmente, reflexões que desencadeiam um processo de mutação, que até eu mesmo me surpreendo. Sou aberta a mudanças, me permito mudar. Há pessoas que encontrei, passaram e nem imaginam a bagunça que causaram. Talvez se um dia nos reencontrarmos nem me reconheceriam, ou pelo menos teriam uma grande surpresa.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Apenas bobagens

Não acredito que estou de férias. Não lembro a última vez que estive completamente de férias. Como sempre estudei na UFPE passei por várias greves, o que deixava o calendário acadêmico uma bagunça! Nunca conseguia conciliar as férias da universidade com as do trabalho. Depois que me formei emendei um trabalho no outro e ainda comecei Letras, ou seja, nada de férias. Agora finalmente estou com quinze dias exclusivos para mim.
Estava em um ritmo muito acelerado, em parte porque sou assim: apressada. Não consigo fazer nada com calma, minha ansiedade não permite. Até essas férias eu já pensei, planejei, fiz lista de tudo o que quero fazer.
Ah lista! Adoro uma lista. Faço lista para tudo.
Já listei tudo que quero fazer nessa quinzena, está tudo planejadinho. Agora estou assim: ansiosa. Anseio cada dia de férias. Acho que vou colocar isso na lista de coisas a melhorar no próximo ano, ansiedade. Vai ser a número 1, top da lista. Mas será que me reconhecerei menos ansiosa? Acho que não. Bom, mas vou tentar.
Até que minha lista de planos para o próximo ano está bem pequena. Deve ser porque ainda não terminei a desse ano, ainda faltam o espanhol, que esqueci completamente, e a danada da monografia da pós. Mas como já aderi a astrologia, meu ano começou no dia do meu aniversário, então ainda tenho 6 meses pela frente.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Acho que não vou celebrar o ano novo agora dia 31 de dezembro, vou aderir a umas teorias astrológicas em que o ano novo se inicia no dia do aniversário. Não sinto que o meu ano está terminando, tenho a sensação de que estou exatamente no meio. Só comecei a pensar nesse ano a partir de maio, um mês antes de seu inicio em meu aniversário, 22 de junho. Fiz algumas reflexões, uns planos aqui, outros sonhos ali, e enfim, ainda estou a caminho para conclusões.

sábado, 10 de novembro de 2007

Desprendida

Quanto tempo se leva para desprender-se? Não sei o tempo certo, nem se existe um tempo determinado. Sei apenas que os meus desprendimentos são longos, dolorosos e transformadores.
Tem uma cena do filme Antes do Pôr do Sol, em que a personagem desabafa, em uma das cenas mais lindas que já vi , que se acha louca porque não consegue esquecer as pessoas com quem se relacionou. Ela não entende como outros terminam um relacionamento e simplesmente esquecem, e aí começam outra relação como se tivessem apenas trocado de marca de cereal.
Se isso realmente for indício de loucura, então sou completamente louca. Não consigo simplesmente esquecer ou substituir alguém como um produto porque pessoas são insubstituíveis em seus específicos detalhes. Não há como recuperar o que se foi, nem o que se perdeu.
Por isso o desprendimento para mim não é nada fácil, é um dos momentos mais dificeis . Desprender-se é libertar-se de um amor, da dor, de mágoas, de um bem, de um vício, de um cheiro, de um sabor, de um riso, de detalhes, de culpas, de cobranças, de lembranças. Mas também é um processo de vasculhar, de descobrir a essência dos sentimentos, sofrimentos e desejos. Amadureço e me renovo a cada ciclo que se fecha. Sinto - me livre ao dirigir pela manhã, ver o mar, sentir o calor do sol, ligar o rádio, cantar e rir. Sinto a leveza da paz egoísta de pensar apenas em mim.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Namoro morno

Uma amiga se queixava sobre a falta de paixão em seu namoro. Segundo ela, o namoro que começou a pouco meses está morno porque seu namorado não demonstra o quanto gosta dela e isso a impede de se entregar pois não sente-se segura quanto ao relacionamento. Mas ela acredita que o com o tempo o relacionamento esquente.
Estranhei ela dizer isso pois sou muito amiga do casal e convivo sempre com os dois e até mesmo um estranho que passe uns 30 minutos perto dos dois pode perceber o amor que ele sente por ela. Todos notam a maneira como ele a olha, a elogia, preocupa-se com seu bem estar, sempre faz um carinho, ri quando ela faz algo engraçado, a apóia e a admira. Todos podem perceber o quanto aquele homem está apaixonado, menos ela.
Ela me mostrou um cartão que ele a entregou. Quando li, perguntei o que mais ela queria para ter certeza dos sentimentos dele. Ele os escreveu e entregou para você, estão aí nessas palavras e você não consegue sentir? Não tive dúvidas, disse logo: você não está apaixonada.
Ele pode fazer as maiores loucuras de amor, as declarações mais vexatórias e bregas e ainda assim você não vai sentir. Não sentirá a paixão nos olhos dele, o coração bater forte nem o frio no estômago.
Quando estamos apaixonados tudo nos comove e reconhecemos provas de amor em qualquer situação. Procuramos sinais no outro que confirmem o nosso sentimento, e quando não encontramos chegamos até a criá-los. Daí a frase: o amor é cego. Muitas vezes, no alto nível da paixão, enxergamos apenas aquilo que mantem o nosso sentimento vivo e para isso chegamos até a distorcer fatos e inventar mentiras para nós mesmos.
Se passamos a racionalizar demais o que sentimos na tentativa de distinguir se é ou não paixão é porque a paixão, em nós, não existe. Ninguém duvida da sua presença, há os que não querem aceitá-la, mas não adianta, a paixão é teimosa, não depende de nossa vontade, é involuntária. Ou sente-se ou não.
A paixão antecede ao relacionamento, ela não vem com o tempo, ela é o motor da relação, é o que impulsiona. Namoro tem que começar quente, ferver, depois pode até ficar morno e esfriar até gelar, mas jamais, nunca, começar morno.
Desconfio desses namoros que começam assim, mornos e sem paixão. Para mim, há apenas duas alternativas para esse tipo de relação: ou acaba-se logo ou se prolonga na inércia por mais um tempo até que ... se acabe.
A paixão não garante tempo de duração a relação alguma, mas garante essência. Relacionamento sem paixão é vazio, não tem cor, não tem emoção.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Cada um sem o seu rolex...

A vioência urbana é notícia todos os dias no nosso país, os números dos assaltos e assassinatos estão ao acesso de todos em vários sites, jornais, programas de TV. Mas quando um famoso é vítima da violência é como se tivesse acontecido a coisa mais absurda e chocante. Como um bandido se atreve a assaltar um famoso? O fato mais recente foi o roubo do rolex de Luciano Huck e a sua carta de protesto a Folha de São Paulo. Prato cheio para a nossa mídia. Uns enaltecem o desabafo do Luciano Huck e apoiam a sua indignação ao pagar todos seus impostos altíssimos e ter que viver em um país sem segurança pública, outros criticaram e ridicualrizaram o apresentador e toda a classe social a que ele representa.
O valor do rolex roubado parece que é uns 45.000 reais. Uauuuuuuuuu Deixa ver o que poderia comprar com esse valor.... Uns 2 carros populares, dava também para comprar uma casa, para alimentar uma família por mais de 1 ano. Dava para muita coisa, mas para o Luciano era apenas um relógio. Ok, não vou entrar aqui no papo preconceituoso de coisa de elite branca e tal. Não é esse o propósito quando decidi escrever esse post. Mas é que fiquei pensando que cada um perde o seu rolex. Eu já fui assaltada 5 vezes. Isso mesmo, foram 5 assaltos e mais uma tentativa, no total 6 vezes em contato com a violência. O saldo perdido: três celulares + uns trocados + 3 bolsas + alguns objetos = R$ 1000,00. Eu acho que esse foi o valor que tive roubado. Uma merreca comparado ao relógio do Luciano, mas como disse cada um perde o "rolex" que tem. Agora vamos aos cálculos do que os jovens que nos assaltaram (eita, tenho algo em comum com Luciano Huck. Poxa!!!) a mim e ao Luciano já perderam, sim porque eles também já foram e ainda são roubados: educação + saúde + alimentação + moradia + brinquedos na infância + emprego + presença dos pais + auto-estima = a possibilidade de uma vida fora da violência. É cada um tem o seu "rolex" roubado. Claro que a desigualdade e a miséria em que esses jovens estão inseridos não justificam a opção deles pela criminalidade, mas compreende-se.

Blindness - Ensaio Sobre a Cegueira

Acabei de descobrir que Ensaio Sobre a Cegueira, de Saramago, virou filme. Assim que li a notícia pensei logo: mais uma porcaria vem por aí. Um tom implicante meu, confesso. Mas tenho bom motivo. As adaptações para o cinema de livros que já li e adorei foram umas porcarias e me fizeram sair um tantinho decepcionada do cinema. A magia que há ao ler é justamente a idéia surgida daquelas palavras ali. Cada frase, cada parágrafo, é um mundo que construimos cheio de fantasias, ilusões, reflexões, sensações. Dificilmente a construção de qualquer diretor será igual a minha. Daí a frustração ao deixar a sala de cinema. Detestei ver o dramalhão feito em Olga, parecia mais que estava assistindo a uma novela das 8 da Globo. Procurei a fortaleza e a frieza da militante comunista e não encontrei. Esse é só um exemplo.
Porém tive que estender minha mão a palmatória. Entrei no blog do diretor do filme, Fernado Meirelles, e simplesmente uma ansiedade e uma curiosidade em assistir ao filme tomaram conta de mim. Primeiro porque Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel (não cheguei a ler o livro) estão na minha lista de filmes favoritos, gosto muito da linguagem que o Meirelles dá aos seus filmes. Em segundo porque vi a preocupação e o cuidado dele em passar para as telas as infinitas reflexões que o livro nos proporciona. As filmagens começaram em julho, acho que o filme deve sair só no próximo ano. Quem já leu o livro, entra no blog http://blogdeblindness.blogspot.com/ para saber de mais detalhes sobre o filme. Quem ainda não leu, por favor se apresse.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Jornada de Trabalho


Depois de ter passado 10 dias em Serra Talhada, Pernambuco, cheguei a Quixeramobim, Ceará. O meu trabalho, em parceria com outra assistente social, é o de mobilização e organização de comunidades para o uso de barragens subterrâneas.
A jornada é cansativa: o sol forte, o vento quente, a péssima estrada cheia de buracos que destrói minha coluna, a repetição do cardápio: galinha caipira, feijão de corda e farofa de cuscuz. No inicio é bem apetitoso, mas depois de três dias não agüento ouvir nem um co-co-ri-có se quer, mas o pior é ter que ver galinha por todos os cantos e pensar: “amanhã você será meu almoço”. Apesar desses incômodos, o trabalho é maravilhoso. Conversar com essas pessoas, ouvir suas histórias, ver o sorriso de alegria ao nos ver bater a porta, ser recebida com o famoso “entre pra dentro, se achegue e sente!”, perceber a diferença na vida da comunidade após a água da tal “loninha”, como eles chamam a barragem. Levar informação e ver o brilho nos olhos de quem acaba de descobrir o novo.
O pôr do sol indica mais um fim de trabalho. Durante o caminho de volta, olho para aquelas casas pequenas, perdidas no meio do sertão. Uma vez, Seu Afonso, morador de São José de Caiçarinha, em Serra Talhada, me disse que só precisa de saúde porque de resto já tem tudo. A principio minha arrogância julgou: que falta de perspectiva, de oportunidade, isso é querer tão pouco. Mas hoje, que tolice pensei! Que prepotência julgar esse homem. Naquele momento, Seu Afonso tinha tudo porque se sentia satisfeito com a sua vida. Procura-se tanto a tal felicidade, quem pode dizer que aquele homem não é feliz? Quem pode dizer como ele que só precisa de saúde porque de resto já tem tudo? Tudo. Tudo? Que tudo é esse que se almeja?
Seu Afonso é casado com Dona Zélia, eles têm 10 filhos e moram em uma casa de dois cômodos, cozinham em fogão a lenha, possuem apenas três bancos para sentarem, e precisam carregar baldes de água todos os dias, pois não há água encanada em casa. Vivem da aposentadoria da mãe de Dona Zélia e do Bolsa Família. Seu Afonso tem tudo na vida.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Dormir e Sonhar


Hoje a alegria entrou sem bater a porta e sem pedir licença. Invadiu minha alma, aumentou ainda mais meu sorriso (se possível), expulsou a angústia e deixou a tranquilidade. Permito-me dormir e sonhar pois nenhum tombo irá me despertar, apenas o sol a invadir meu quarto e anunciar o novo dia. É o dia, é a hora, é a minha vez de trazer meus anseios para o real.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Ela e Ele

Ela amou.
Amou muito e sofreu a não correspondência desse amor.
Tentou.
Tentou uma, duas, três vezes.
Seu destino era a solidão de um amor sem volta.
Ele desconhecia o amor.
Não sabia o que era amar, muito menos o que era ser amado.
Seguia seu caminho solitário.
Desistiram do amor, e essa desistência os uniu.
Se olharam.
Ela acreditou. Ele resistiu.
Ela se jogou. Ele confiou e a seguiu.
Se amaram.
Caminharam juntos por ruas diferentes.
Acreditaram no impossível e na certeza que surgia como uma poesia.
Poesia que era música, Beatriz.
Atravessaram fronteiras em busca do lar.
Movidos pela unica razão que tinham: nascemos para nos amar.


Para Dani, Bebeto e Beatriz.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Before sunset

:::::::::Celine said:
...And, how can you say that?
Because... I mean, I always feel like a freak because I'm never able to move on like......this!
You know.People just have an affaire, or even... entire relationships... They break up and they forget!
They move on like they would have changed a brand of Cereals!
I feel I was never able to forget anyone I've been with, because each person have... you know, specific qualities!
You can never replace anyone. What is lost is lost.
Each relationship, when it ends, really damages me. I haven't fully recovered. That's why I'm very careful with getting involved, because... It hurts too much!
Even getting laid! I actually don't do that...I will miss of the person the most mundane things. Like I'm obsessed with little things.
Maybe I'm crazy, but...When I was a little girl, my mom told me that I was always late to school. One day she followed me to see why... I was looking at chestnuts falling from the trees, rolling on the sidewalk, or... ants, crossing the road... the way a leaf casts a shadow on a tree trunk... Little things.
I think it's the same with people.
I see in them little details, so specific to each other, that move me, and that I miss, and... will always miss.
You can never replace anyone, because everyone is made of such beautiful specific details. Like I remember the way... your beard has a little bit of red in it. And how the sun was making it glow that... that morning, right before you left.I remember that, and... I missed it!
I'm really crazy, right?

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Tempo Banal




Vaga
Devagar
Para divagar
A vida.

Liberta a alma
Das amarras
Impostas pelo
Ritmo das horas.

Não há pressa
Em apressar
O ritmo marcado
Pelo toque
Do seu pulso.



segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Transfigurar-se

O escuro conselheiro ilumina a alma
Que tem a cor da rosa mais viva sem perfume.
Espinhos fazem o vermelho líquido escorrer,
A água salgada regar a pele.
Não seca porque é vida.
Não se extingue porque é mutável.

Registros

Desde criança tenho o hábito de escrever diários. Sempre em meus aniversários ganhava de presente um novinho em folha e aposentava o da idade que se passava. Nesses meus caderninhos de páginas coloridas e enfeitadas eu ia depositando a alegria em ter ganho um presente que tanto desejava, a raiva de minha mãe que me deixou de castigo e as inumeras brigas com as amigas do colégio. Depois percebi que eram meus desabafos, era o espaço que eu tinha para externar o que me pertubava, o que me aparecia de novo e o que me alegrava. Escrever alivia a alma. Esses meus diários pesam toneladas de emoçoes, de lágrimas e risos. Hoje eles são um mapa que me levam a entender quem sou.
Relendo-os percebo que os medos daquela menina ainda estão aqui, só que com novas representações. É preciso acender as luzes do quarto e destruir os monstros de seus pesadelos para que a menina adormeça e caia em seu sono profundo.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Cansei?????


A elite paulistana está organizando um movimento para ir as ruas protestar contra o governo. Alguém um dia imaginou isso no nosso país? Eu, nunca. O Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, Cansei, organizado pela OAB e tem como garotas propagandas Ana Maria Braga, Hebe Camargo, Regina Duarte e a baiana Ivete Sangalo vai realizar essa façanha. O movimento planeja uma paralisação para o dia 17 de agosto, em São Paulo e em Porto Alegre, em protesto ao acidente da TAM, a crise aérea e as corrupções do governo.

É no mínimo tudo muito engraçado. Acho que essas senhoras devem ter esticado tanto a cutis em plásticas e botox que realmente devem estar usando o velho óleo de peroba. Me pergunto do que elas e a classe representada por elas estão cansadas? A Hebe Camargo nunca cansou dos jantares e festas da sua alta sociedade paulistana na companhia do seu querido amigo Paulo Maluf, aquele procurado pela interpol em não sei quantos países. Ana Maria Braga deve estar muito cansada de suas compras na Daslu e de pescar no seu big big iate e ir a sua fazenda de jatinho. Ela deve sentir muito os problemas da crise aérea. Já a Regina Duarte, releva-se. Ela sofre de um sofrimento psiquico de fobia, a lulafobia. Ela já declarou publicamente o seu medo a Lula. Agora a baiana.... Realmente ela deve está cansada de cantar nas micaretas e no carnaval excludente da Bahia. Essas mulheres estão bastante cansadas. Nem se compara com as vidas de milhares de brasileiras de dupla e tripla jornada de trabalho. Mulheres que acordam as cinco da manhã, levam seus filhos a escola, pegam ônibus, vão ao trabalho para sustentarem seus lares e quando chegam em casa ainda cuidam dos afazeres domésticos. Essas brasileiras podem dizer CANSEI!!! Cansei dessa desigualdade absurda do país em que vivemos.

Tudo bem, estamos em um país democrático e todos têm o direito de protestar e de expor suas idéias. Mas prefiro ainda as idéias expostas por Marilena Chaui sobre a crise aérea e a manipulação da mídia no acidente da TAM.

Leiam:

Para os que se interessaram pelo movimento cansei: http://www.cansei.com.br/

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Papel e lápis, por favor.

Como Cazuza um dia disse: "o nosso amor a gente inventa". Então vamos inventá-lo agora. Pegue o bloquinho de papel, a caneta e deixe a criatividade mandar.
Por que temos que sentir o amor inventado pelos outros? Então alguém inventou que o amor é algo mágico, que nos eleva, nos faz delirar, difícil de sentir, não é apenas gostar, é algo bem maior, mais forte. Ah! E foi criado para ser eterno, não se acaba nunca. Se acabou, não era amor.
Um dia um amigo disse que não acreditava no amor porque não encontrava uma definição para ele. Quando descreviam o amor era sempre um conjunto de outros sentimentos. Tipo uma receita: Mistura no liquidificador amizade, respeito, carinho, muito afeto, tesão e aí deixa bater até ficar uma massa homogênea.
Pelo que já li, há uma fronteira a ser atravessada entre o gostar e o amar. Você começa no gostar, aí anda, anda, anda até chegar no limite territorial, cruza e chega ao amor. Entretanto esse limite é bem variável. Há vestígios de que alguns só se olharam a primeira vez e já sentiram o amor. Mas também há aqueles que sempre andaram mas nunca cruzaram a fronteira e só o conhecem porque leram as impressões escritas de quem já chegou lá.
Então o que é e o que não é amor?
Quem pode dizer se era ou não uma história de amor?
Segundo as aulas de teoria da literatura, toda obra precisa ter a intencionalidade. Qual a intenção do autor? A que a obra se propõe a ser?
Então comecemos a escrever a nossa história agora. Vamos inventar o nosso prazer, a nossa felicidade, a nossa amizade, o nosso amor.
Vamos ser os autores-personagens do nosso romance e viver aquilo a que nos propomos sentir.

sábado, 4 de agosto de 2007

No papel do ridículo

Há umas duas semanas, fui ao cinema assistir cão sem dono. Estava super ansiosa para assistir ao filme pois já tinha ouvido falar muito sobre ele mas, para minha decepção, o filme não atingiu nem metade das minhas expectativas. Não é um filme ruim, apenas não me emocionou. É sobre o sofrimento de um homem após separar-se da mulher que ama, ele chega ao fundo do poço e perde completamente o eixo sobre sua vida. O filme, tão elogiado pela critica e pelo público no cine PE, que realmente não entendi porque não gostei. Deixei pra lá.
Ontem fui ao teatro, a peça também era sobre o sofrimento causado pelo amor. Havia umas cenas dramáticas das dores horrorosas que os personagens sentiam. Enquanto todos da platéia assistiam atentamente as cenas e se emocionavam com o drama ali exposto, eu caía numa crise de riso. Ria sem parar, tentava conter o riso, mas era inútil. Achei aquilo tudo tão patético, aquelas pessoas sofrendo daquela forma, que parecia mais uma comédia do que um drama. Aí finalmente entendi porque não gostei de cão sem dono. Foi pelo mesmo motivo que ri na peça.
Tanto no filme quanto no espetáculo, o sofrimento após o término de uma relação é tão forte que chega a ser ridículo. Os personagens protagonizam as cenas mais patéticas que já vi. Viram-se no chão, se contorcem, gritam, falam absurdos do tipo que não vão conseguir levar mais a vida. De tão dramático torna-se engraçado. Percebo então que o amor nos torna um bando de ridículos!
Há aqueles que devem me achar uma pedra insensível por eu pensar dessa forma, mas não consigo perceber emoção nessas cenas humilhantes e degradantes. Quem quiser que ache isso bonito e chame de amor. Isso pra mim é patetice e caso de loucura. Essas estórias em que a donzela ou o príncipe sofreram tanto com a ausência do outro que morreram de amor são os maiores casos de falta de amor próprio. Ninguém pode ser tão importante na vida do outro a ponto da sua ausência lhe tirar a razão ou a alegria de viver. Quem pensa assim, por favor trate de procurar uma terapia porque você deve ter sérios problemas de auto-estima.
A dor da separação é uma das piores coisas que sofremos, concordo plenamente. Aquela dor no peito, o choro preso, uma frustração, saudade. Aff! É horrível. Porém não vamos tornar esse momento pior do que já é ao transformá-lo em uma novela mexicana, porque pode parecer não ter fim, mas tem e tudo passa. Aí depois que a emoção do tal amor passar, quem é que vai achar agradável perceber que foi uma Maria do Bairro ou um Luis Fernando de La Vega?

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Vamos fugir....

Médicos em greve. Professores em greve. 346 homicídios em julho. Ai socorrooooo!!!!
Vamos fugir daqui? Mas como? Não dá nem pra pegar o primeiro avião.

domingo, 29 de julho de 2007


Um dia algém me disse que adorava cinema porque os filmes preenchiam seus vazios.


Meu verbo preferido sempre foi o ter. Trocava apenas os complementos. Foram tantos sujeitos, adjetivos, substantivos, advérbios na procura do melhor resultado, mas não adiantavam. Tinha sempre a impressão de que faltava algo nos textos, alguma palavra fora do lugar ou em exagero. Havia um erro, não sabia qual. Decidi ir a sua busca. Reli todos os textos escritos, desde aqueles de menina nas aulas de redação do colégio até os mais recentes. Li todos como um leitor exigente. Foi um trabalho árduo, cansativo e até doloroso, mas valeu a pena.
O erro estava no núcleo do predicado verbal, na essência, no próprio verbo. Os textos antigos não podem ser refeitos, admito hoje que não eram tão ruins quanto pensava, mas já foram escritos e publicados. Concentro-me para os próximos, esses terão o verbo certo: sentir.

sábado, 28 de julho de 2007

Abro a janela. Finalmente o sol brilha.
Vou até o jardim.
Casulos, roseiras cheias de botões, grama verde a crescer.
Hummm Acho que são os anúncios da primavera, ao menos para mim.




sexta-feira, 20 de julho de 2007

Um flash passa em minha mente carregado de lembranças boas de momentos que foram e que ficaram. Estão em mim, me completam, fragmentos de um todo. Hoje me aparecem como sensações, sentimentos, pensamentos que não descrevo em palavras pois não quero torná-los signos . São apenas essências. Minhas essências. Eu. apenas eu, que procuro loucamente nesse escuro. Escuro? Não. No colorido. Me perco no colorido, são tantas cores. Uma infinitude de possibilidades.
Ai que dor, a dor que faz nascer. A dor que apresenta o desconhecido. E para a sua chegada é preciso afastar-se de tudo que já foi dito, feito, visto e sentido.
Não quero o passado de volta repaginado, o que foi, foi-se. Quero o presente intenso sem as marcas do que já fiz e sempre faço.
Lembrar com saudade é despedir-se novamente. Ah, sábia!!!

New roommate

>Estou aprendendo a conviver com a solidão. Lembro que o ano passado já havia começado esse processo, depois abandonei a idéia e tratei de afastá-la. Mas a danada arrumou um jeito de aparecer de surpresa, e bateu a minha porta. Então resolvi permitir sua entrada, porém fui tentar conhecê-la e procurei seus antecedentes. Alguns dizem que a solidão é algo ruim, as canções baratas referem-se a ela como uma peste. Já Clarice Lispector dizia que a sua força estava na solidão e que ela lhe bastava.Para os filósofos existencialistas é a condição de todo ser humano. O homem nasce só, vive só e morre só. Cada um tem dentro de si tudo o que precisa para ser feliz e se realizar. O homem por si só já é completo, o outro só vem a trocar.Pois bem, depois de identificá-la percebi que o início de convivência seria bem difícil.Ela incomoda bastante e requer uma série de exigências. É preciso diminuir o ritmo de atividades, acalmar um pouco a rotina. Silêncio, muito silêncio para prestar atenção em alguns barulhos que só você pode ouvir. Ela é muito curiosa e sempre lhe faz perguntas e questionamentos que você nem sempre tem a resposta, ou nunca antes tinha parado para pensar a respeito. É ciumenta também e quer toda a minha atenção, não aceita compartilhar com meus outros amigos. Tem umas companhias que não são muito agradáveis, às vezes aparecem a tristeza e a angústia, mas acredito que depois elas demorem a voltar, não são muito bem vindas. Ah, mas ela é bem íntima da arte, principalmente da literatura. No final de tudo tenho a certeza que seremos grandes roommates. É só questão de adaptação, já dei o primeiro passo: a aceitei.

terça-feira, 17 de julho de 2007

algumas notinhas...

Sou ímpar mas teimo em querer ser par. Que menina mais teimosa! Só ficando de castigo para aprender.

***

Sábado à noite fui quase assaltada. Deixei o vidro do carro um pouco aberto e quando parei no sinal, um menino apareceu na janela. Falou alguma coisa baixo, não entendi bem. Quando me virei para lhe dar atenção, vi a faca apontada para mim. Era uma serrinha de pão. Pediu o celular, com esse seria o meu terceiro roubado. No momento em que fui procurar o aparelho para dar ao menino, o sinal abriu e um motoqueiro, que via tudo a distância, acelerou a moto em direção ao garoto. Ele saiu correndo. Da mesma forma que apareceu de surpresa, desapareceu entre os carros. Fiquei tranqüila, mas D. Lau que estava comigo fez um escândalo, e ainda tive que ouvir todas as suas recomendações para não deixar o vidro aberto. Resultado: rendo-me ao ar-condicionado.

***

Entrei no clima do PAN. Foi de repente, comecei a assistir a competição da ginástica nessa segunda a tarde. Me peguei fazendo um esforço para entender aquela pontuação matematicamente louca. As notas são todas fracionadas, que loucura! 13.3 , 16.5, 15.5, 6.2 Não entendia nada, mas fui a maior torcedora. Além disso, a competição virou quase um drama mexicano. Quem não se comoveu com a menina de 15 anos que perdeu a mãe quando criança e foi ajudada por um projeto social? Pois bem, esqueçamos o drama feito pelos jornalistas e vamos ao fato: o choro preso da ginasta após a queda no último aparelho e a sua volta para finalizar o exercício. Nessa hora ativei o mute da tevê. Qualquer comentário era totalmente dispensável.

***
Dunga tá zangado. Coitado do Ronaldinho cara de cachorro e do Kaká menino que aceitou Jesus. Ui ui ui, agora ele ta podendo, 3 x 0 na Argentina. Eu no lugar dele já tinha comprado meu bilhete da mega sena. Temos que aproveitar quando a sorte aparece.

***

terça-feira, 10 de julho de 2007

Atenção mulheres!!!


Há uma grave epidemia no mundo feminino. Um mal que vem assolando mulheres de todos os tipos, idades, raças e classes. Não sei se é algo novo ou se sempre existiu , mas só agora eu vim perceber sua existência em nosso universo. É a culpada pelas desgraças femininas, a responsável pelos fracassos nas relações amorosas: a carência afetiva.
Desconfio que exista uma conspiração contra nós mulheres e estamos caindo feito patas.
Prestem atenção: são inúmeras reportagens em revistas femininas, sites, colunas em jornais, crônicas, programas de TV, está a nossa volta o tempo todo. Tudo agora só se fala em carência afetiva. Se você se envolveu com um safado, foi carência. Se você é ciumenta ou insegura, a culpa é da sua baixa auto-estima. Se preferir namorar a estar sozinha, é porque você tem um vazio interior e só você mesma poderá preencher. Além disso tudo sobra para os pais. Coitados!!!! A culpa é deles que não amaram suficientemente suas filhas e elas cresceram doidas carentes procurando alguém para amar desesperadamente. Eu brinquei com uma amiga psicóloga: “sua classe profissional está liderando essa conspiração para encher seus consultórios”. São várias e várias entrevistas de psicólogos diagnosticando as mulheres de carentes. Aquelas sessões nas revistas femininas em que elas perguntam sobre suas relações. Todas, absolutamente todas as respostas dos especialistas se referem à carência.
Vamos ser razoáveis por favor! Claro que existe um sofrimento psíquico relacionado à carência afetiva e a baixa auto-estima, mas não vamos generalizar.
Por que não admitir que a mulher se envolveu com o safado porque tava a fim, porque o safado era bom de cama? E qual o problema de namorar sempre? Quem nasceu nesse mundo pra estar sozinho? Quem não gosta de ter alguém?
Nunca ninguém fala da parte do homem nessa conversa toda (ah eles nunca são os carentes. Esse mal é exclusivo nosso). Parece que eles são as vítimas das loucas carentes. Os coitados que foram sufocados e pressionados. Nada disso!! Será que as cobranças das mulheres não surgem da falta de comprometimento dos homens? E o ciúme e a insegurança não devem vir dessa mania horrorosa que os homens têm de olhar para qualquer rabo de saia que passe na sua frente e de sempre deixar a relação em terceiro ou quarto plano após o trabalho, o futebol e a cerveja com os amigos? Ora, ora, ora. E todas as cobranças que as mulheres sofrem? Se está chegando perto dos 30 solteira, lascou! Começam as piadinhas na família, o tal relógio biológico pedindo uma gravidez.
No final, a mulher acaba realmente achando que é carente, ler tudo quanto é reportagem sobre o “problema” e vai correndo para terapia. Aí lá começa a busca pelo não se sabe o quê, e volta na época em que se tinha sete anos de idade e seu pai bateu em você .... Pronto!!! Esse fato traumatizou toda sua vida amorosa....

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Diário de Campo

Nessa terça feira, 03/07, eu, Mari e Sr. Genival partimos para mais uma jornada pelo sertão. Essa viagem ia ser muito pesada, 5 dias em campo. Cidades previstas: Serra Talhada, Custódia e Ouricuri. Saímos de Recife pela manhã, tinhamos pela frente uns 400 km de estrada até a primeira parada: Serra Talhada.
Logo que entrei no carro, levei uns 20 minutos de conversa inicial com os dois, aquelas trivialidades sobre as açoes da viagem, o tempo e pronto. Caí no sono profundo. Só lembro me de, inutilmente, fazer um esforço imenso para abrir os oslhos em Caruaru, mas deixei pra lá. Segundo Mari, o carro tem efeito sonífero em mim. Mas é uma estratégia que faço desde criança quando viajava de carro para Belém com meus pais, dormindo o tempo passa mais rápido e não fico enjoada no caminho.

Almoçamos em São Caetano. A carne de sol estava uma delícia.
Voltamos a estrada, mais uns cochilos e chegamos a Arcoverde. Gosto de olhá-la pela estrada, pois dá pra ter uma visão completa da cidade, parece uma maquete ou uma cidade de brinquedo.

Chegamos em Serra Talhada no final da tarde. Fomos direto para as comunidades de São José de Caiçarinha e Conceição de Cima. Para chegar até lá é preciso enfrentar 15 km de uma estrada de barro cheia de buracos no meio da caatinga seca. Você chega na comunidade parecendo que levou uma surra.

A comunidade de Conceição de Cima lembra um cenário daquelas cidades de novela. As casas de barro com as faixadas bem pintadas em cores vibrantes, rosa choque, verde limão e lilás são as preferidas dos moradores. Elas ficam em meio círculo, no centro há um campo de futebol, ao lado uma igreja, do outro lado fica o grupo escolar.

Os moradores nos receberam com a simpatia de sempre. Puxaram logo umas cadeiras e mandaram a gente sentar. Sr. Genival, que não perde uma conversa, foi logo sentando.
Marta perguntou a ele como estava o pé torcido na última vez que esteve na comunidade. Ele disse que estava melhor, mas ainda um pouco inchado.
- A quantidade de anos que você tem é a mesma de dias que ele vai levar pra ficar bom - explicou Antonio, marido de Marta.
Não entendemos essa teoria, mas Sr. Genival ficou preocupado, se Antonio estiver certo, no total vai levar mais de cinquenta dias para o pé parar de doer e desinchar.
Mas para a sua tranquilidade Sônia deu logo a receita:
- Passa ovo que sara logo.
- Ovo? Cozinha o ovo? - Perguntou Sr. Genival curioso.
- Não, passa ele cru mesmo. Uma vez dei um mal jeito na mão e fui a uma rezadeira. Ela mandou eu passar gasolina, mas nem adiantou. Passei a noite toda sem dormir de dor, aí fui a cozinha passei ovo e amanheci boazinha.

Depois dessa descoberta médica/curandeira de Sônia, deixamos a comunidade.
Finalmente matei a curiosidade de ver um guiné. Sempre fui curiosa pra saber como era o tal bicho que fala: Tô fraco! Tô Fraco!

Duas coisas me impressionam no sertão: o silêncio e o pôr do sol. São absolutamente incríveis.
Assim acabou nosso primeiro dia.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Obrigada meu amigos, vocês tornaram um domingo chuvoso e sem graça na melhor comemoração de aniversário que já tive. Fico muito feliz em tê-los na minha vida.
Esse aniversário foi realmente muito especial. É um novo ano que se inicia em minha caminhada( no momento ela está dificil, há mais buracos que as ruas de Olinda ou as do meu Janga Beach, mas sei que me levará a uma praia tranquila, de águas mornas e areia branquinha)
Nesse aniversário, além da presença e a alegria de todos, ganhei sem dúvida alguma o melhor presente que alguém pode receber. Demonstração de carinho, dedicação e amizade. Obrigada Paulo, é um belo início de amizade. Rosana, obrigada pela briga com o seu novo office, sei que foi uma batalha dificil com essa nova versão de power point, mas infelizmente meu computador é antigo e não consegui abrir o arquivo. Os que vocês me entregaram estão no mural do meu quarto.

Queridos, leiam abaixo meu presente:

Maria dos Desencontros
Paulo Tavares M. Filho - 20/06/07

Maria dos Desencontros
Não se encontra em si
É um vasto mundo
Formado por sensações
Em evolução diária
Não se encontra no tempo
Pensa que ano começou em maio
Quando a vida passou a acontecer
Quando o horizonte se mostrou
Como sempre foi
Amplo!
Não se encontra conformada
Segue em busca de um novo encanto
Conta estrelas
A vida uma grande celebração a vida
Se afasta do pragmatismo
Do pensamento calculista
Que ancora o vôo
Não se encontra na multidão vazia
Durante o dia coexiste
De fato vive quando dorme
Quando sua essência
Abandona o que a prende ao chão
Quando de fato está, é livre
Para ser o que for
Em seu universo interior
Formado de possibilidades
Não se encontra a mesma
Ao amanhecer
Abre os olhos a um estranho
O dia
Que lhe chega como incógnita
Como virtualidade;
Ela também lhe é, se é, estranha no momento
Não esquece quem é
Mas reconhece a transitoriedade
Do que não pode ser estático.
Maria dos Desencontros
Não se encontra em si
E nos caminhos desencontrados
Com que tece sua vida
Mantém-se alerta ao mundo
Numa ode pós-moderna à alegria
À desrazão
Ao caminhar...

sábado, 30 de junho de 2007

Decidi voltar a usar espelho.
Ganhei um novo de presente de aniversário.
Ele vai ser importantíssimo para que eu encontre algo que muito procuro e só agora descobri onde posso achar: nos meus olhos.
Preciso olhar através deles, como se fosse olhar o Recife através da janela de um prédio qualquer na Rua da Aurora.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Toc toc toc...

Abra a porta.
Estou aqui e vou entrar.
Não vai abrir?
Não é problema.
Pulo a janela ou desço pela chaminé.
Essa casa é minha e venho pra bagunçar.
Entro a hora que quero, não me interessa sua vontade.
Minha presença a incomoda,
não demoro a ir.
Já vou.
...
Mas volto logo.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Arcoverde, Sertão, Pernambuco, Brasil.

Volto para casa depois de três dias em Arcoverde para a festa de São João com a certeza do engano para quem acha que a tradição de festa junina acabou e que o forró está desaparecendo.
É fácil achar que o velho e bom forró desaparece em meio a essa onda de não sei lá o quê elétrico, entre tantos aviões e gaviões que ninguém identifica diferença alguma e apenas pode-se chamar de “forró” porque é assim que essas bandas denominam o que tocam. Mas Arcoverde está aí para mostrar que nem tudo está perdido. Lá ainda podemos sentir aquela fumaça das fogueiras queimando nas ruas, ouvir o som da rabeca, arrastar o pé no autêntico pé de serra e entrar na roda do coco.
Nesse São João percebi que tradição e cultura existem, que nenhum nordestino pode fugir a suas raízes nem deixar de se emocionar.
Emoção explodida no show de Cordel do Fogo Encantado ao sentir a chuva caindo, e imaginar que a apenas alguns quilômetros dali, entre as muitas comunidades perdidas do sertão, o Ingá, São José de Caiçarinha e Conceição de Cima deviam estar em festa pela água da chuva. Chuva que traz a certeza de que se pode plantar o feijão de corda porque vai ter colheita. Chuva que enche as cisternas e os poços para os muitos não têm água encanada. Chuva que mata a sede dos que caminham 6 km para encher um tonel de água. Chuva para lavar a alma e soltar as lágrimas.
É a esperança do pequeno e sobrevivente agricultor sertanejo nordestino. É a festa da colheita. É a festa de São João.

Mari, que farra boa hein?
Zé, próximo ano estaremos lá.

terça-feira, 19 de junho de 2007


25 anos. Posso dizer que a chegada a essa idade vem causando certa inquietação em mim, mas não por causa desse papo que estou ficando velha, é justamente o contrário. Quando fiz 20 anos estava tão eufórica com a liberdade conquistada que brincava de ser adulta. Com uma petulância e uma arrogância irritantes usava e abusava do discurso da independente, da certeza sobre minhas escolhas e da tal liberdade de ir e vir. Que boba!!! Não passava de uma menina perdida sem saber para onde caminhava, ou melhor corria. Atropelava os acontecimentos, não parava para analisar coisa alguma. Me enchia de cobranças, criava expectativas e idealizava um futuro. Que futuro? O futuro depois dos 25 anos, ou seja, a proximidade dos 30. Esse futuro esperado chegou, ou melhor está para chegar em três dias e me mostrar que nada do que tanto ansiava aconteceu. Aconteceu algo bem melhor. Pela primeira vez começo a olhar para o presente e para mim mesma. Quero aproveitar a alegria do hoje e parar de perguntar “como será?...” . Chega de aproveitar o presente em memória depois de ele ter se tornado passado porque o deixei ir enquanto pensava no futuro. Os 25 anos iniciam uma nova fase na qual tenho a certeza de que há todo o tempo pela frente e que começo a aproveitá-lo sem pressa. É como se a partir de agora começasse um caminho para me conhecer e descobrir o que quero e o que não quero, respeitando meus desejos e vontades. Acabo de entrar numa egotrip sem saber o ponto de chegada e muito menos a data de retorno.

quinta-feira, 7 de junho de 2007



Passa, passa, passa logo.
Vai tempo! Passa e leva isso contigo.
Leva para bem longe de mim.
Deixa em um lugar bem escondido para que eu não possa nunca mais sentir.
Leva isso e traz outro.
Mas traga com cheiro de livro novo e gosto de primeiro beijo.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Procuro palavras para dizer o que sinto.
Vou ao dicionário.
Cazuza, Los Hermanos, Chico, Betânia e Zeca Baleiro tentaram me ajudar.
Pedi socorro a Pessoa, mas nada.
Não encontro nada tão perfeito.
Como dizer algo que não sei?
Não sei do que tenho saudade, nem o nome dessa ausência.
Tenho dúvidas quanto ao que desejo,
A tristeza, desconheço do que seja.
A alegria, não sei de onde surge e o riso é sem graça.
Chega! Desisto.
Fico com o silêncio.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

About Me


Mulher;
Canceriana;
Riso fácil no rosto;
Tagarela;
Gosto de pessoas, tenho medo da solidão;
Companheira e fiel;
Avessa a frescuras;
Adoro verão mas odeio o calor;
Detesto a superficialidade, gente "desabitada" e comum, prefiro os complexos;
Viajo com Los Hermanos;
Mutável,me renovo a cada instante;
Egoísta e egocêntrica;
Chata,crítica, direta, impaciente, mal criada e desaforada;
Forte;
Perdidamente romântica;
Não sonho, deliro!

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Espelho

Hoje pela manhã quebrei meu espelho. Foi acidental, escapou de minhas mãos. Os cacos ficaram espalhados pelo chão do quarto, mas tudo bem ele não seria mais necessário.
O que vejo em mim jamais sairia refletido em espelho algum.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Pessoas

Há uns tipos de pessoas que eu invejo. Por exemplo, Os magros de ruim, aqueles que comem a vontade e não engordam, desfrutam de todos os prazeres da gula e ainda assim permanecem em paz com a balança. Há os super zens também, os que adoram a natureza, o silêncio e uma meditação, são aqueles calmos que controlam a ansiedade. Acho tão bonitinho! Você se aproxima deles e já sente a paz e a harmonia, deve ser a tal aura. (Existem também os casais felizes, mas essa é aquela inveja ruim, ai como odeio casais felizes, mô pra cá, mô pra lá, vozinha de bebê, dengo dengo. Ahrgggg. Abaixo os casais felizes!!!!!!!!).
Mas também há uns que não consigo entender como vivem. Os racionais, por exemplo, tem coisa mais chata do que esses? Pra mim, impossível. Analisam, pensam duas, três até quatro vezes antes de fazer alguma coisa, planejam a vida detalhadamente, abafam as impulsividades, não vivem as paixões, racionalizam sentimentos, sensações, não se jogam na vida, eles passam por ela e nem notam. O que dizer também dos bonzinhos? Aqueles tipos que só pensam nos outros, incapazes de dizer não, pau pra toda obra, não se preocupe você pode pedir quantos favores quiser que eles nunca vão dizer não, você pisa no pé deles e eles ainda pedem desculpas por deixarem o pé no seu caminho. Bonzinho só se ferra.
Mas nenhum tipo me incomoda mais do que os sérios. Eu tenho medo desses que não riem nem soltam gargalhadas, que nunca gazearam aula nem colaram na prova, que nunca ficaram de porre.
Só não invejo, nem temo, nem me incomodo com os loucos pois esses representam o conjunto maior de pessoas no qual todos nós, sem exceção, estamos inseridos. Quem não tem suas loucuras?
Nas nossas idiossincrasias somos todos loucos.

A mil por hora

Parece que o ano está começando agora para mim, de repente surgiram tantos planos e projetos. Tenho que acelerar para dar tempo de fazer todos até dezembro.
Vou desenferrujar meu inglês e ressucitar o espanhol; fazer a monografia da especialização e a seleção para o mestrado; arrastar o pé em Arcoverde; trabalhar no semi-árido cearense e pernambucano, ir ao cinema aos fins de semana, ler água viva, metarmofose e trem bala. Claro que vou continuar a dançar o samba nas sextas, o forró arretado aos sábados, tomar minha caipirinha, ir ao Recife Antigo aos domingos, jogar conversa fora e escrever meus desencontros.

Labirinto

Entro no corredor das angústias, passo pela porta da ansiedade, chego à solidão, vou para a tristeza, fujo para a impulsividade, caio na insensatez, descanso na euforia, vago na alegria,continuo a andar, dobro na decepção, passo pela desilusão, volto à tristeza, abro a porta da reflexão, entro na calmaria, sigo em frente, o corredor é longo, dobro a esquerda, entro em outro corredor, já estive aqui, novamente nas angústias. Acabo de entrar em uma sala, não a conheço, nela há apenas um espelho.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Perdeu a importância

Sabe quando temos alguma coisa que perdeu sua importância e aí não sabemos o que fazer com ela? Aquele objeto antes tão estimado e agora representa apenas um entulho. Nessa situação surge aquela dúvida: o mantemos guardado ou o jogamos logo no lixo?

Por isso que tenho uma gaveta exclusiva para esses objetos que perderam a importância, mas que insisto em guardar por um tempo porque talvez um dia ele volte a ser de grande importância para mim. Então vou jogando as coisas nela, e aí a pobre da gaveta vai ficando uma bagunça danada até que chegue o esperado dia da faxina. Nesse dia, faço a limpeza geral. Tiro todos os papéis ali amassados e todos os cacarecos guardados passam por uma rigorosa seleção até alguns seguirem seu novo destino: o lixo. (Os papéis vão para a reciclagem, aproveito para fazer minha colaboração com o meio ambiente). Outros ainda vão permanecer guardados na gaveta por mais um tempo.

Se com objetos temos dificuldade em nos desfazer, o que dizer então de pessoas? Sim, porque pessoas também deixam de nos ser importantes.

Aquele namorado ou aquela namorada que deixamos de amar e a relação está tão desgastada que o seu término seria um alivio, o ex-colega de faculdade, aquele que vocês eram tão inseparáveis durante o curso mas após a formatura percebe-se que não há tantas coisas assim mais em comum e aí você nem lembra mais de telefonar para saber notícias, aquela amiga ou aquele amigo tão especial mas que com o tempo foram surgindo as desavenças, a falta de atenção, as mágoas, e ai vocês vão se afastando que quando percebem a amizade já não é mais tão importante assim para você.

Durante nossas vidas quantas pessoas já perderam a importância para nós? Nem vivi tanto assim, mas acho que muita gente desapareceu para mim, muitas foram jogadas direto no lixo sem passar pela gaveta, outras não, ainda deixei guardadas um tempinho.

Não quero parecer dura, nem que estou comparando pessoas a coisas as quais usei e depois não tiveram mais utilidades para mim, ou que a qualquer momento posso descartar qualquer um. Não é descarte. Somos mutáveis, mudamos nossos gostos, nossa maneira de pensar e de agir, e nesse processo de mudança muitos não nos acompanham.

Geralmente o processo de “desvalorização” de alguém é doloroso, repleto de mágoas, decepções e tristezas, mas a hora da consciência, não. Aquele momento em que percebemos que não sentimos mais a falta daquele alguém, que tanto faz a sua companhia ou a sua amizade, é tranqüilo, sereno, é um alívio.

Depois todas se tornam lembranças de momentos importantes para mim. Fizeram parte do meu amadurecimento, foram importantíssimas naquele momento, naquele tempo, naquele meu outro “eu”. Hoje não fazem mais falta.

No momento acabo de encher minha gaveta de coisas sem importâncias, mas vou demorar um tempo ainda para fazer aquela faxina, o lixo vai esperar um pouco mais.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Encontro


Ontem mais uma vez encontrei a mim mesma ao assistir novamente Antes do pôr do sol. Perdi as contas de quantas vezes já o assisti, mas a sensação é como se o estivesse sempre assistindo pela primeira vez.
O filme é a história de um casal que se reencontra depois de ter passado uma noite juntos há nove anos. É um diálogo interminável no qual os personagens fazem um balanço de suas vidas, de suas relações e da frustração que sentem ao imaginar como seriam suas vidas se tivessem ficado juntos.
Ele assume a tristeza por viver em um casamento sem amor, sem paixão e que a única razão que o faz continuar é o seu filho de 4 anos. Ela desabafa o seu desânimo no amor, nas suas relações e o medo em se comprometer.
O filme é tão intenso para mim, uma explosão de sentimentos, que é impossível não me encontrar em alguma dessas situações. É sempre um encontro com aquilo que está mais escondido em mim, é como se o filme liberasse uma carga de sentimentos que tento abafar. Minhas inseguranças, carências, frustrações, amores, lembranças.
Lembro-me do encanto que senti por alguém que nunca mais verei, lembro-me das inúmeras tentativas que fiz, das pessoas com as quais me envolvi e das marcas que deixaram e que ainda permanecem em mim.
Encontrei-me em meio a lágrimas, a tristeza, ao desespero, ao romance, a sorrisos e a fé.

terça-feira, 15 de maio de 2007

“O poema sujo
se constrói na dor e no gozo
na morte íntima
do amor”.
(Marcelo Pereira)


Volta!
Quero te aqui, junto a mim.
Quero ver teu sorriso,
sentir tua pele,
teu cheiro.

Loucura!
Eu sei. Mas chega de razão,
quero me perder nos meus delírios!
Me procura, me olha.
Só o que eu quero é o teu olhar.

Não agüento mais a presença desse vazio.
Sigo adiante, caminho,
não quero esse caminho.
Desejo a angústia que me acalma por estar contigo!

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Baixio das Bestas


Sem palavras. Essa é a melhor descrição da minha reação e dos demais que estavam na sessão do filme Baixio das Bestas. O filme é uma crítica social sobre a vida cruel dos cortadores de cana-de-açúcar no nordeste pernambucano e levanta problemáticas de gênero como a prostituição, o estupro e o patriarcalismo, além de mostrar também a cultura popular da “brincadeira” do maracatu rural.
As sensações que tive durante o filme foram as mesmas que senti ao ler Ensaio Sobre a Cegueira, de Saramago: choque, revolta, incompreensão, nojo. Na verdade é assim que ficamos todos quando nos deparamos com as expressões da natureza humana, quando percebemos o homem agindo com seus instintos, privado de limitações éticas ou morais para a satisfação de suas necessidades primárias como o sexo e a fome, comuns a qualquer outro animal.
Vivemos em um sistema de organização social em que nossos comportamentos são tolhidos pelos valores culturais e morais, e em que os avanços científicos alcançados pelo homem provocam um afastamento do homem natural, daí ao depararmos com cenas de barbárie, ficamos extremamente chocados, sem palavras.
Diferentemente do livro de Saramago, Baixio das Bestas não mostra apenas o resgate da natureza humana para refletirmos sobre nossos valores, ele dramatiza situações em que a brutalidade humana é provocada pela desigualdade e injustiça social, pela falta de acesso a educação, pela conservação de valores retrógrados como o patriarcalismo e o abuso do poder masculino. Não é apenas choque o que senti, mas indignação, pois se sabe que essas cenas de barbárie são cotidianas na vida de milhares de pessoas excluídas e oprimidas.
Infelizmente, não encontramos essa circunstancia apenas em obras de arte ou no nordeste brasileiro, a selvageria humana está mais presente na nossa vida e não a percebemos. O tráfico de drogas, a banalização da vida humana, crianças que crescem rodeadas por violência e têm como única esperança ou plano de vida o ingresso no tráfico, não temos mais a liberdade de ir e vir, pois saímos de casa amedrontados, inseguros, estamos presos na nossa paz dos condomínios fechados, nos nossos carros com ar-condicionado. Todos os dias lemos noticias de vítimas de balas perdidas, de assaltos, de pessoas que morreram em filas de hospitais por falta de atendimento médico, de exploração do trabalho infantil, de mendigos queimados, e de tantas outras notícias da vida urbana.
Um animal irracional caça e mata animais de outras espécies para sua sobrevivência. O animal racional homem mata o próprio homem.
Baixio das Bestas é um belíssimo filme.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Espécie em extinção

Uma vez disse que não acreditava mais nas músicas de Vander Lee (nada contra o cantor). Que bobagem!!!! Claro que acredito! Estou viva por isso. Disse isso em um momento de desânimo quanto a relacionamentos. Como ele mesmo diz em uma de suas músicas, "romântico é uma espécie em extinção". É assim que estou. Sinto que minha espécie está se extinguindo, e o pior é que não vejo nenhuma política de proteção aos românticos e de combate aos exterminadores do romantismo. Quem são os vilões? O individualismo, o egoísmo, a era do descartável.
Na época em que vivemos se eleva o individualismo, a auto-suficiência, defende-se a idéia de que cada um faça por si, cada um que corra atrás das suas conquistas. Até pode ser, desde que seja na medida certa. Acredito que devemos ter nossos objetivos e lutar por eles, é isso que nos movimenta, a busca pelos nossos sonhos nos faz querer viver.
Mas o que me questiono é: que realizações são essas? Sempre que pensamos em alguém realizado, imaginamos logo que ele deve ser bem sucedido na sua profissão, no seu trabalho. Realização pessoal virou sinônimo de realização profissional. Vivemos em uma sociedade na qual nos auto-afirmamos através do que possuímos e não do que somos, nossas buscas são coisas. Queremos um carro novo, uma casa nova, as melhores roupas, trocar de celular, coisas e mais coisas. Chico César que estar certo ao dizer que “coisas são só coisas, servem só pra tropeçar”.
Nessa busca desenfreada por coisas, estamos coisificando até pessoas, e pior em coisas descartáveis.
As relações são efêmeras, descartáveis. Não há mais o envolvimento, pra que o trabalho de conhecer o outro? Pra que conviver com os defeitos do outro? Ceder? Jamais. Ninguém quer ceder. Ninguém quer se comprometer. Instituiu-se o ficar, o sexo casual, o rolo. Relações duradouras? Fora de moda.
Ao falar em comprometimento e compartilhar sua vida, parece que está se falando em um absurdo.
- Namoro? Pra quê? A gente “fica” que é melhor. Saimos para jantar, boa conversa, boa transa e depois cada um para o seu mundinho particular.

E onde está a essência dessas relações? Não existe.

Não tem a sensação confortável da proteção do abraço de quem a gente ama, o olhar é opaco, sem brilho, não há tremor nas mãos nem frio na barriga, não há a satisfação em fazer o outro rir, não se conhece o outro, não há para quem ligar para contar o que lhe aconteceu durante o dia, não há o companheirismo, não há carinho, não há cuidado, não há saudade. Há o nada após o prazer momentâneo.

Claro que romantismo está em desuso, afinal não é fácil ser romântico. É mais fácil racionalizar as emoções do que se entregar a elas.
Não é fácil ceder, não é fácil se doar nem respeitar o outro. Não é fácil inserir alguém nos nossos planos, não é fácil pensar no outro, não é fácil se recuperar de uma desilusão e ainda assim acreditar em uma próxima relação. Não é fácil encontrar a beleza em meio a tanta violência, não é fácil sonhar.

Preservem esses bobos que sofrem a toa!
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

O famoso trecho de Saint Exupéry no pequeno príncipe é super brega, batido, todo mundo escreve nos cartões de aniversário (todo mundo sem criatividade), mas é uma verdade, talvez porque a vida seja brega mesmo, e está aí a aceitação de todos em qualquer idade pelo pequeno príncipe. Tem relação mais verdadeira que a amizade?
Ser amigo apenas por que gosta do outro, amizade sem interesse. Quem é amigo, aquele amigo sincero, companheiro, o é porque ama o outro, o respeita. Amigo é aquele que a gente pode contar para as horas mais difíceis, que está lá para nos apoiar, ouvir as nossas choradeiras, aconselhar nas nossas dores de cotovelo, compartilhar nossas alegrias, nossas conquistas. Amigo fiel mesmo é aquele que conhece nossos defeitos, que não apenas, não passa a mão por nossas cabeças como também nos traz para realidade mostrando que as coisas nem sempre são como queremos e diz quando erramos. Amizade aberta é aquela em que não há rodeios, em que não há frescura, há brigas também, desentendimentos, claro que há!!!! Mas ai daquele que falar mal de um amigo!
Triste são as relações que não restam amizade. O que acontece com os pais quando os filhos crescem e tornam-se independentes? Tornam-se amigos. Os pais ao educarem seus filhos, não estão apenas criando cidadãos de caráter mais também futuros amigos. Quando isso não ocorre encontramos aqueles lares vazios onde os diálogos são apenas sobre as trivialidades do dia-a-dia, há um vazio, uma barreira, os pais simplesmente estão a parte da vida de seus filhos.
O casal de namorados sempre tiveram uma relação ótima, afinidades, respeito, sempre gostaram de estar perto um do outro, riam sempre juntos, davam conselhos, mas aí a paixão acaba. Pronto! Afastam-se completamente, cada um vai para o seu lado, não querem mais nem saber da vida do outro, certo? Errado. Nem sempre pode ser assim. Claro que é preciso um tempo sim para curar as mágoas, para que a dor da separação passe, mas depois por que não ser amigos? Vocês foram companheiros um do outro, se amaram, se respeitaram, é mais do que natural conservar o carinho e a amizade. Que delícia deve ser depois reconhecer no outro aquele amigo e construir um novo caminho.
Sou brega sim, romântica e quero continuar a cativar pessoas. Sou feliz pois tenho bons amigos que me ajudam a construir minha essência, através de indicações de livros, música, troca de idéias, bons papos, troca de experiências, de alegrias, de tristezas, bons e maus conselhos, e mais tudo que faz parte da amizade.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Acabou.

Fim de relacionamento. Tem coisa mais clichê que essa? Acredito que não. Tema presente em milhares de músicas, livros, poemas, peças teatrais, pinturas, movimenta a criatividade dos artistas, lota os consultórios dos terapeutas e enche os ouvidos de todos os amigos solidários. Esse deve ser com certeza o assunto mais falado da vida humana, ultrapassa a crise ambiental, social, política e religião. Mas isso é óbvio.Todos nós nos apaixonamos, nos envolvemos, nos doamos, e aí tropeçamos nas mágoas, nos desgates, nas briguinhas e chegamos lá: o rompimento.
E agora? Aí vem aquela dor funda lá no peito, o choro, a tristeza, depressão, sua auto-estima fica lá escondida, a dor da rejeição, da separação, a saudade...
Como é difícil se separar, mas pior que a separação é continuar sofrendo no relacionamento. A separação você sofre tudo de uma vez e fica pronto para se renovar, mas enquanto você está no relacionamento em que há o desencontro do casal e a sintonia de sentimentos deixou de existir, sofre uma dor contínua. Fica um magoando o outro. Para aquele que a paixão acabou, o relacionamento torna-se um fardo. Por mais atenção, carinho e amizade que dê, eles nunca serão suficientes para satisfazer o outro, que espera o que não pode ser dado: amor.
É preciso coragem para tomar a decisão e ir em frente. É preciso força para superar a dor do rompimento, as lembranças constantes dos bons momentos, as ilusões de que talvez aconteça uma reconciliaçao, as conversas imagináveis, a saudade. Mas lá na frente, quando o tempo levar a emoçao e a dor, compreende-se que foi o melhor para você.
Aí quando tudo passar, você começa tudo de novo, e se por acaso não dê certo, prepare-se! Você vai sofrer tudo de novo, tudo igualzinho.

Fluxo da Consciência

O rio seco, as águas não escorrem mais. Fico olhando e não entendo. Sinto-me só. A festa acabou, os convidados foram embora, tudo acaba. O tempo passa e folhas vão caindo. As flores murcharam. As ruas, vazias. A vida continua, as descobertas, as alegrias, os prazeres, a efemeridade desses momentos. Eu assisto a tudo. Eu e o meu destino, meu caminho. Atravesso os obstáculos, persisto. Eu, totalmente eu. Eu e eu. Lembranças que permanecem. Eu e essa dificuldade de fazer você me entender. Destino. Ignoro e sigo. Tudo é igual. Vagar pelas vitrines de sonhos vazios. Tento me expressar, mas não consigo. Tento mostrar o que posso, mas não consigo. Parei, voltei a andar, pulo muros. O momento é agora. Foco em mim. Não compreendem o que estou dizendo. Nós, perdidos, isolados no mundo dos nossos sonhos. Idealizei, não realizei. Estou cansada, mas não paro. Quero. Não tente me entender, não me interrogue. Deixe-me em paz. Deixe-me ser eu. Me ame, me conheça, me perceba. Saia desse seu altar, olhe além do seu espelho. Continuo, continuo, persisto. Estou para outra. Vou fugir de você, saia do meu caminho. A vida é assim, um círculo. Ando em círculos. Não me repito mais. Vou seguir em frente. Vou continuar meu destino. Cansei de tentar mostrar como sou. Não precisa mais me conhecer. Suas chances acabaram, vou embora. Vou andar. Pode ser que nos encontremos, pode ser que não. Serei outra. Irei amadurecer. Serei outro alguém