segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Namoro morno

Uma amiga se queixava sobre a falta de paixão em seu namoro. Segundo ela, o namoro que começou a pouco meses está morno porque seu namorado não demonstra o quanto gosta dela e isso a impede de se entregar pois não sente-se segura quanto ao relacionamento. Mas ela acredita que o com o tempo o relacionamento esquente.
Estranhei ela dizer isso pois sou muito amiga do casal e convivo sempre com os dois e até mesmo um estranho que passe uns 30 minutos perto dos dois pode perceber o amor que ele sente por ela. Todos notam a maneira como ele a olha, a elogia, preocupa-se com seu bem estar, sempre faz um carinho, ri quando ela faz algo engraçado, a apóia e a admira. Todos podem perceber o quanto aquele homem está apaixonado, menos ela.
Ela me mostrou um cartão que ele a entregou. Quando li, perguntei o que mais ela queria para ter certeza dos sentimentos dele. Ele os escreveu e entregou para você, estão aí nessas palavras e você não consegue sentir? Não tive dúvidas, disse logo: você não está apaixonada.
Ele pode fazer as maiores loucuras de amor, as declarações mais vexatórias e bregas e ainda assim você não vai sentir. Não sentirá a paixão nos olhos dele, o coração bater forte nem o frio no estômago.
Quando estamos apaixonados tudo nos comove e reconhecemos provas de amor em qualquer situação. Procuramos sinais no outro que confirmem o nosso sentimento, e quando não encontramos chegamos até a criá-los. Daí a frase: o amor é cego. Muitas vezes, no alto nível da paixão, enxergamos apenas aquilo que mantem o nosso sentimento vivo e para isso chegamos até a distorcer fatos e inventar mentiras para nós mesmos.
Se passamos a racionalizar demais o que sentimos na tentativa de distinguir se é ou não paixão é porque a paixão, em nós, não existe. Ninguém duvida da sua presença, há os que não querem aceitá-la, mas não adianta, a paixão é teimosa, não depende de nossa vontade, é involuntária. Ou sente-se ou não.
A paixão antecede ao relacionamento, ela não vem com o tempo, ela é o motor da relação, é o que impulsiona. Namoro tem que começar quente, ferver, depois pode até ficar morno e esfriar até gelar, mas jamais, nunca, começar morno.
Desconfio desses namoros que começam assim, mornos e sem paixão. Para mim, há apenas duas alternativas para esse tipo de relação: ou acaba-se logo ou se prolonga na inércia por mais um tempo até que ... se acabe.
A paixão não garante tempo de duração a relação alguma, mas garante essência. Relacionamento sem paixão é vazio, não tem cor, não tem emoção.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Cada um sem o seu rolex...

A vioência urbana é notícia todos os dias no nosso país, os números dos assaltos e assassinatos estão ao acesso de todos em vários sites, jornais, programas de TV. Mas quando um famoso é vítima da violência é como se tivesse acontecido a coisa mais absurda e chocante. Como um bandido se atreve a assaltar um famoso? O fato mais recente foi o roubo do rolex de Luciano Huck e a sua carta de protesto a Folha de São Paulo. Prato cheio para a nossa mídia. Uns enaltecem o desabafo do Luciano Huck e apoiam a sua indignação ao pagar todos seus impostos altíssimos e ter que viver em um país sem segurança pública, outros criticaram e ridicualrizaram o apresentador e toda a classe social a que ele representa.
O valor do rolex roubado parece que é uns 45.000 reais. Uauuuuuuuuu Deixa ver o que poderia comprar com esse valor.... Uns 2 carros populares, dava também para comprar uma casa, para alimentar uma família por mais de 1 ano. Dava para muita coisa, mas para o Luciano era apenas um relógio. Ok, não vou entrar aqui no papo preconceituoso de coisa de elite branca e tal. Não é esse o propósito quando decidi escrever esse post. Mas é que fiquei pensando que cada um perde o seu rolex. Eu já fui assaltada 5 vezes. Isso mesmo, foram 5 assaltos e mais uma tentativa, no total 6 vezes em contato com a violência. O saldo perdido: três celulares + uns trocados + 3 bolsas + alguns objetos = R$ 1000,00. Eu acho que esse foi o valor que tive roubado. Uma merreca comparado ao relógio do Luciano, mas como disse cada um perde o "rolex" que tem. Agora vamos aos cálculos do que os jovens que nos assaltaram (eita, tenho algo em comum com Luciano Huck. Poxa!!!) a mim e ao Luciano já perderam, sim porque eles também já foram e ainda são roubados: educação + saúde + alimentação + moradia + brinquedos na infância + emprego + presença dos pais + auto-estima = a possibilidade de uma vida fora da violência. É cada um tem o seu "rolex" roubado. Claro que a desigualdade e a miséria em que esses jovens estão inseridos não justificam a opção deles pela criminalidade, mas compreende-se.

Blindness - Ensaio Sobre a Cegueira

Acabei de descobrir que Ensaio Sobre a Cegueira, de Saramago, virou filme. Assim que li a notícia pensei logo: mais uma porcaria vem por aí. Um tom implicante meu, confesso. Mas tenho bom motivo. As adaptações para o cinema de livros que já li e adorei foram umas porcarias e me fizeram sair um tantinho decepcionada do cinema. A magia que há ao ler é justamente a idéia surgida daquelas palavras ali. Cada frase, cada parágrafo, é um mundo que construimos cheio de fantasias, ilusões, reflexões, sensações. Dificilmente a construção de qualquer diretor será igual a minha. Daí a frustração ao deixar a sala de cinema. Detestei ver o dramalhão feito em Olga, parecia mais que estava assistindo a uma novela das 8 da Globo. Procurei a fortaleza e a frieza da militante comunista e não encontrei. Esse é só um exemplo.
Porém tive que estender minha mão a palmatória. Entrei no blog do diretor do filme, Fernado Meirelles, e simplesmente uma ansiedade e uma curiosidade em assistir ao filme tomaram conta de mim. Primeiro porque Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel (não cheguei a ler o livro) estão na minha lista de filmes favoritos, gosto muito da linguagem que o Meirelles dá aos seus filmes. Em segundo porque vi a preocupação e o cuidado dele em passar para as telas as infinitas reflexões que o livro nos proporciona. As filmagens começaram em julho, acho que o filme deve sair só no próximo ano. Quem já leu o livro, entra no blog http://blogdeblindness.blogspot.com/ para saber de mais detalhes sobre o filme. Quem ainda não leu, por favor se apresse.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Jornada de Trabalho


Depois de ter passado 10 dias em Serra Talhada, Pernambuco, cheguei a Quixeramobim, Ceará. O meu trabalho, em parceria com outra assistente social, é o de mobilização e organização de comunidades para o uso de barragens subterrâneas.
A jornada é cansativa: o sol forte, o vento quente, a péssima estrada cheia de buracos que destrói minha coluna, a repetição do cardápio: galinha caipira, feijão de corda e farofa de cuscuz. No inicio é bem apetitoso, mas depois de três dias não agüento ouvir nem um co-co-ri-có se quer, mas o pior é ter que ver galinha por todos os cantos e pensar: “amanhã você será meu almoço”. Apesar desses incômodos, o trabalho é maravilhoso. Conversar com essas pessoas, ouvir suas histórias, ver o sorriso de alegria ao nos ver bater a porta, ser recebida com o famoso “entre pra dentro, se achegue e sente!”, perceber a diferença na vida da comunidade após a água da tal “loninha”, como eles chamam a barragem. Levar informação e ver o brilho nos olhos de quem acaba de descobrir o novo.
O pôr do sol indica mais um fim de trabalho. Durante o caminho de volta, olho para aquelas casas pequenas, perdidas no meio do sertão. Uma vez, Seu Afonso, morador de São José de Caiçarinha, em Serra Talhada, me disse que só precisa de saúde porque de resto já tem tudo. A principio minha arrogância julgou: que falta de perspectiva, de oportunidade, isso é querer tão pouco. Mas hoje, que tolice pensei! Que prepotência julgar esse homem. Naquele momento, Seu Afonso tinha tudo porque se sentia satisfeito com a sua vida. Procura-se tanto a tal felicidade, quem pode dizer que aquele homem não é feliz? Quem pode dizer como ele que só precisa de saúde porque de resto já tem tudo? Tudo. Tudo? Que tudo é esse que se almeja?
Seu Afonso é casado com Dona Zélia, eles têm 10 filhos e moram em uma casa de dois cômodos, cozinham em fogão a lenha, possuem apenas três bancos para sentarem, e precisam carregar baldes de água todos os dias, pois não há água encanada em casa. Vivem da aposentadoria da mãe de Dona Zélia e do Bolsa Família. Seu Afonso tem tudo na vida.