quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Jornada de Trabalho


Depois de ter passado 10 dias em Serra Talhada, Pernambuco, cheguei a Quixeramobim, Ceará. O meu trabalho, em parceria com outra assistente social, é o de mobilização e organização de comunidades para o uso de barragens subterrâneas.
A jornada é cansativa: o sol forte, o vento quente, a péssima estrada cheia de buracos que destrói minha coluna, a repetição do cardápio: galinha caipira, feijão de corda e farofa de cuscuz. No inicio é bem apetitoso, mas depois de três dias não agüento ouvir nem um co-co-ri-có se quer, mas o pior é ter que ver galinha por todos os cantos e pensar: “amanhã você será meu almoço”. Apesar desses incômodos, o trabalho é maravilhoso. Conversar com essas pessoas, ouvir suas histórias, ver o sorriso de alegria ao nos ver bater a porta, ser recebida com o famoso “entre pra dentro, se achegue e sente!”, perceber a diferença na vida da comunidade após a água da tal “loninha”, como eles chamam a barragem. Levar informação e ver o brilho nos olhos de quem acaba de descobrir o novo.
O pôr do sol indica mais um fim de trabalho. Durante o caminho de volta, olho para aquelas casas pequenas, perdidas no meio do sertão. Uma vez, Seu Afonso, morador de São José de Caiçarinha, em Serra Talhada, me disse que só precisa de saúde porque de resto já tem tudo. A principio minha arrogância julgou: que falta de perspectiva, de oportunidade, isso é querer tão pouco. Mas hoje, que tolice pensei! Que prepotência julgar esse homem. Naquele momento, Seu Afonso tinha tudo porque se sentia satisfeito com a sua vida. Procura-se tanto a tal felicidade, quem pode dizer que aquele homem não é feliz? Quem pode dizer como ele que só precisa de saúde porque de resto já tem tudo? Tudo. Tudo? Que tudo é esse que se almeja?
Seu Afonso é casado com Dona Zélia, eles têm 10 filhos e moram em uma casa de dois cômodos, cozinham em fogão a lenha, possuem apenas três bancos para sentarem, e precisam carregar baldes de água todos os dias, pois não há água encanada em casa. Vivem da aposentadoria da mãe de Dona Zélia e do Bolsa Família. Seu Afonso tem tudo na vida.

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