segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O que há de pior em mim

Me iludo. Mas é por pouco tempo. Na verdade nem consigo me iludir. Desconfio. É desconfiança mesmo, não ilusão. Finjo que acredito que você é alguém bem melhor, você finje tão bem. Até parece que aquela menina desperta e acha que finalmente encontrou seu pai herói. Ah, mas não tenho herói, nunca gostei de superman, sempre preferi o garfield. Mas o garfield não é herói, nem ético, nem corajoso, nem sempre se dá bem, mas tenta. Pai também não. Quantas provisões, algumas insuficientes outras até surpreendentes. Mas tudo sempre atrasado ou compensatório. Bolsa-família surgiu na minha casa. Presente com sabor de liquidação não tem troca, é fim de estoque, roupa fora de moda e bicicleta fora da idade.
Andei sozinha. Aprendi a pedalar sozinha. Não posso esquecer de meu amigo de infância e vizinho Luciano, tão companheiro nessas horas. Segurava o celim da bicicleta e quando eu começava minhas primeiras pedaladas ele soltava as mãos tão discretamente que eu só percebia quando caía de bunda no chão. Lá vinha ele correndo rindo da minha queda, mas sempre elogiando minha desenvoltura no pedal.
Fui apresentada ao egoísmo, à desconfiança e à mesquinharia. Não fui uma boa aluna apesar de ter um excelente professor. Sempre fui muito teimosa, só aprendia o que me interessava.
Festas. Não fui a nenhuma delas. Tinha 15 anos, estava pronta com meu vestido laranja, era horrível mas eu me achava linda. A ansiedade de dançar com qualquer um, seria minha primeira dança. As paredes do meu quarto foram meus primeiros campos de independência. Era lá que o rosto com a maquiagem mal feita borrada pelas lágrimas do seu não que eu comecei a tecer meu plano de mulher independente. Não precisaria ouvir nem sim nem não porque ela poderia fazer o que quisesse. Ela se permitiria.
O abraço desajeitado de dois estranhos que nunca se conhecem vindo da entrega de presentes comprados por terceira, por ela sempre insistente para a fotografia da família feliz. Não espero nada e ao mesmo tempo tudo! Sua alma se fora desse corpo há tanto tempo, não agüento a presença dessa figura ausente de significações. Boneco de pano não seria diferente, talvez mais útil, é tão bonitinho! Melhor ainda uma fotografia. Limpava a poeira uma vez ou outra e ainda poderia virar o porta-retrato para me privar de sua companhia.
-Afaste-se!
-Mais?
-Definitivamente.

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