terça-feira, 24 de março de 2009

Desabafo

Certa vez li em uma reportagem sobre profissões estressantes que a minha está no topo da mais causadora de stress, juntamente com enfermagem e lincenciaturas. Não sei qual foi a base científica dessa pesquisa mas concordo totalmente com ela. No meu cotidiano me deparo com situações de extrema pobreza, de alta vulnerabilidade e de pessoas fragilizadas.
Muitas vezes no atendimento seguro o choro para não cair em lágrimas na frente do usuário. Me perco no sofrimento deles pois me sinto impotente. Por mais encaminhamentos que eu faça sei que as políticas não vão atender de forma completa, sei que no posto de saúde falta medicamentos, sei que a quantidade de cesta básica para portadores de HIV é insuficiente e que não há vaga em programa que acolha um jovem de 21 anos em situação de rua, que já passou pelo tráfico e agora só deseja aprender a ler e escrever.
Vejo o retrato puro da pobreza todos os dias. Vejo crianças de 7 anos agressivas e idealizando traficantes como super-heróis. Vejo mães chorando a perda de seus filhos assassinados. Vejo pessoas paralisadas em sua situação de pobreza, adolescentes sem planos nem projetos para o futuro e estão incapazes de se imaginarem nos próximos dois anos. Ao mesmo tempo vejo o descompromisso de nossos represantes jogando nossas ideologias e esperanças no fundo do poço. Me vejo sem saída. Procuro me fortalecer nos resultados imediatos de um encaminhamento, ou na alegria de um usuário que foi contemplado no Bolsa Família, ou em uma reunião socioeducativa em que o sorriso no rosto de uma participante expressa sua satisfação por ser escutada. Pequenos resultados que dão um pouco de gás. Mas o fato é que estou sem força até para assistir a um filme e esperar o final feliz como em Quem quer ser milionário? Passei o filme esperando que aquele menino morresse ou nao ganhasse. Não consigo olhar um fato e analisa-lo isolado e apenas acreditar nele e ficar feliz por isso. Esbarro logo em seguida no mas... O mas que traz a critica e o pessimismo .

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