segunda-feira, 14 de maio de 2007

Baixio das Bestas


Sem palavras. Essa é a melhor descrição da minha reação e dos demais que estavam na sessão do filme Baixio das Bestas. O filme é uma crítica social sobre a vida cruel dos cortadores de cana-de-açúcar no nordeste pernambucano e levanta problemáticas de gênero como a prostituição, o estupro e o patriarcalismo, além de mostrar também a cultura popular da “brincadeira” do maracatu rural.
As sensações que tive durante o filme foram as mesmas que senti ao ler Ensaio Sobre a Cegueira, de Saramago: choque, revolta, incompreensão, nojo. Na verdade é assim que ficamos todos quando nos deparamos com as expressões da natureza humana, quando percebemos o homem agindo com seus instintos, privado de limitações éticas ou morais para a satisfação de suas necessidades primárias como o sexo e a fome, comuns a qualquer outro animal.
Vivemos em um sistema de organização social em que nossos comportamentos são tolhidos pelos valores culturais e morais, e em que os avanços científicos alcançados pelo homem provocam um afastamento do homem natural, daí ao depararmos com cenas de barbárie, ficamos extremamente chocados, sem palavras.
Diferentemente do livro de Saramago, Baixio das Bestas não mostra apenas o resgate da natureza humana para refletirmos sobre nossos valores, ele dramatiza situações em que a brutalidade humana é provocada pela desigualdade e injustiça social, pela falta de acesso a educação, pela conservação de valores retrógrados como o patriarcalismo e o abuso do poder masculino. Não é apenas choque o que senti, mas indignação, pois se sabe que essas cenas de barbárie são cotidianas na vida de milhares de pessoas excluídas e oprimidas.
Infelizmente, não encontramos essa circunstancia apenas em obras de arte ou no nordeste brasileiro, a selvageria humana está mais presente na nossa vida e não a percebemos. O tráfico de drogas, a banalização da vida humana, crianças que crescem rodeadas por violência e têm como única esperança ou plano de vida o ingresso no tráfico, não temos mais a liberdade de ir e vir, pois saímos de casa amedrontados, inseguros, estamos presos na nossa paz dos condomínios fechados, nos nossos carros com ar-condicionado. Todos os dias lemos noticias de vítimas de balas perdidas, de assaltos, de pessoas que morreram em filas de hospitais por falta de atendimento médico, de exploração do trabalho infantil, de mendigos queimados, e de tantas outras notícias da vida urbana.
Um animal irracional caça e mata animais de outras espécies para sua sobrevivência. O animal racional homem mata o próprio homem.
Baixio das Bestas é um belíssimo filme.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fiquei com a mesma sensação. Mostrou demasiada crueldade. Muito boa crítica.

Anônimo disse...

Por acaso me poderia indicaronde posso achar a trilha sonora desse filme? Tem uma musica que passa no filme que adoraria ter, mas que nao encontro sequer no youtube.
Obrigada